segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Perfil: Pe. Vilson Groh

Nada mais justo do que findar o ano de 2010 com uma reportagem de um ser humano exemplar. Quero desejar meus votos de uma forma diferente: contando a história (ou parte dela) de uma pessoa que tem a generosidade como alimento, e o espírito de empatia como bússula para guiar.

Um feliz natal. Um feliz ano novo!

Aos leitores deste humilde blog, abaixo o perfil do Pe. Vilson Groh.




O SACERDOTE DA FAVELA






Na Rua General Vieira da Rosa, no número 610, no centro de Florianópolis, mora um padre. Não simplesmente um padre, mas sim, um padre progressista que optou por não somente pregar a palavra de Deus, mas, por buscar trazer, se não da paz dos céus, pelo menos um pouco da dignidade aos excluídos da sociedade e esquecidos pelos governantes.
É lá, na rua íngreme, uma das adjacentes que levam a um dos principais morros de Florianópolis, o Monte Serrat, que Padre Vilson escolheu para viver há 26 anos. O local é palco entre disputas de traficantes e onde acontece um dos comércios de drogas da região. Mas é também neste lugar que uma centelha de esperança brota todos os dias, ou melhor, várias. Afinal, é lá no número 610 que além de dormir e celebrar uma missa todas as manhãs na capela ao lado de sua casa, que padre Vilson preside o Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA). O centro atende mais de 15 mil crianças e jovens pobres dos morros da capital, nos horários em que não estão na escola.

Do celibato ao morro
No ano de 1955, em Brusque, município distante 100 quilômetros de Florianópolis, nascia aquele que iria escrever um destino com mais justo aos favelados da capital catarinense. Vilson Groh é o primogênito de um rebento de onze filhos. Os pais, Floriano e Adélia Groh, tiravam o sustento dos filhos da fábrica onde trabalhavam, a Renoux. E se tinha algo de espontâneo nessa família, era o espírito de coletividade. Tinham por hábito colocar o dinheiro que recebiam numa caixinha, e ali se dividia tudo o que tinha para o consumo da casa. Virtude essa adquirida por Vilson e evidente marca de sua personalidade até hoje. É dividindo o que consegue, por meio de patrocínio e leis de incentivo, que a dignidade, tão esquecida nos embrenhos das favelas, faz emergir ali.
A ligação com os movimentos sociais começou cedo, aos 12 anos, quando ia às reuniões do sindicato da Renoux no lugar do pai, que já não as freqüentava mais por divergências de opiniões com os participantes. O pequeno Vilson participava dos encontros para assinar a ata de presença, que era o que garantia o recebimento de sua bolsa de estudos. Em função disso, nesse período, começa seu envolvimento com as questões da classe trabalhadora.
Em 1969, o contexto histórico do país passava por uma época turbulenta. Este ano fora instaurado o ato Constitucional nº5, no mesmo período em que Vilson, aos 15 anos, decidira seguir pela vida eclesial. A igreja, nesse período, era única que possuia certa liberdade, aí o interesse do jovem pela cristandade.
No seminário, no bairro de Azambuja, Vilson passa a entrar em contato com a literatura francesa, aonde se encanta com os ideais de Abbé Pierre, padre que abandonou a cátedra para se juntar aos pobres. A partir daí começa seu olhar mais crítico e indignado pela discrepância no descaso dos governantes com os pobres. A opção pelo sacerdócio, segundo o próprio Vilson, se deu pela vontade de querer lutar pela igualdade social.
Em 1983, inicia um marco importante para Florianópolis. O padre vai morar no morro Mont Serrat. A contra gosto do arcebispo Dom Eusébio, que tentou impedi-lo de tudo quanto é jeito de continuar seu trabalho nos morros justificando que não cabia a um sacerdote cumprir com esse papel. Chegou a oferecer bolsas de estudos na Europa para tirá-lo de lá. Não teve jeito. O ímpeto humanitário do padre falou mais alto e, lá seguiu ele, rumo ao pé do morro. Como castigo, Vilson fora desligado do Instituto Teológico onde foram retiradas varias funções que lhe cabiam.
Já no morro, o sacerdote dos pobres intensifica mais do que nunca seu trabalho em movimentos sociais tendo como de norte de sua saga a atuação em partidos políticos (sem ser um), a teologia da libertação, o mundo universitário e o Movimento sem Terra. O padre arregaça as mangas da batina, e começa a limpar toda a sujeira debaixo do tapete e reclama do serviço mal feito.


Um trabalho contínuo pelos excluídos
É difícil quem não tenha ouvido falar sobre Padre Vilson na cidade, sendo que sua vida social intensa é atrelada aos morros e, estes, mais do que nunca, têm seus destaques no noticiário da região. Uma das conquistas idealizadas e obtidas pelo padre e a comunidade, e que é usufruída por toda Florianópolis, é o Direto do Campo, antigo Cestão do Povo. Lá a população adquire alimentos diretos do produtor, mais baratos e acessíveis para população.
Como não só de alimento vive o homem e sendo contínuo o crescimento do narcotráfico nas comunidades de Florianópolis, Vilson cria no final de década de 80, entre sua humilde casa e a capela de Mont Serrat, o Centro Cultural Escrava Anastácia. O projeto hoje abarca várias ações que vão desde capacitação profissional para qualificar jovens para o mercado de trabalho, através do Primeiro Emprego – já foram inseridos mais de 1.300 -, até a criação de uma Incubadora Popular de Cooperativas para a geração de renda que conta com uma confecção de moda jovem, uma panificadora e confeitaria, uma estética, uma loja em soluções em informática e, por fim, uma lojinha de artesanatos feitos com material reciclável. Dentre tantas outras ações, é de destaque a que apóia vitimas de crimes e violência com apoio jurídico e psicológico. Conforme Padre Vilson, as matrizes dos projetos têm como viés o trabalho continuo, que começa quando criança, passa pela adolescência até inseri-las no mundo universitário através do pré-vestibular gratuito.

O reconhecimento
Apesar dos inúmeros reconhecimentos pelos trabalhos que realiza, a vaidade é algo que nem de perto passa pelo padre. Na casa simples e pequena em que vive, localizada um pouco abaixo do CCEA - basta abrir a porta e virar a esquerda que Groh consegue ter uma visão panorâmica de seu legado - os troféus ficam quase escondidos em meio aos tantos livros que possui na estante. Em 2008, na sua primeira edição, o “Prêmio Betinho – Atitude Cidadã 2008, homenageou Vilson por sua luta diária contra a fome e pela promoção da cidadania. O mais recente, e que talvez receba um lugar privilegiado entre o apinhado de obras literárias em sua biblioteca particular, é o troféu “Amigo da Comunidade”. A homenagem é feita pelo Grupo RBS àqueles que tiveram iniciativas em prol da melhoria da sociedade catarinense. No dia 25 de novembro, em Joinville, Vilson recebeu o prêmio.

A luta continua
A tribuna da Câmara de Vereadores de Florianópolis, no dia 9 de novembro, serviu de palco para um pedido afiado do padre. Ele pediu que fosse suspensa pela Secretaria de Obras, órgão ligado à prefeitura, a demolição da casa de Seu Rui, morador do Maciço do Morro da Cruz (região central que faz ligação entre diversos morros de Florianópolis). A casa de Rui e de outras pessoas foram construídas em áreas de preservação ambiental. Moradores ainda fazem manifestações reivindicando que, antes das demolições, sejam entregues a eles as novas casas, para depois serem demolidas as antigas.
Nessa mesma noite, o padre convocou apoio aos vereadores para seus projetos sociais voltados aos jovens. Armado de argumentos, Vilson usou como exemplo os custos das prisões com os de seus trabalhos. Conciso, destacou que os valores com um menor na São Lucas, centro de internamento que abriga menores infratores, custa 3mil reais por mês, e um jovem em seu programa vale somente 250 reais. Em dezembro, o governo do estado de Santa Catarina trará para Florianópolis o tenor italiano Andrea Bocelli. A pechincha do evento: nada menos que 2 milhões de reais. Segundo Vilson, 1/3 do cachê do tenor sustentaria cerca de 300 jovens no seu projeto “Procurando Caminho”.
Com a agenda apertada, os projetos para tocar, verbas para viabilizar, reuniões a cumprir e o centro cultural para presidir, o sacerdote da favela ainda precisa arrumar tempo para as filmagens de uma reportagem em sua homenagem em função do troféu que acaba de receber. Uma das lideranças comunitárias mais representativas da região precisa vestir sua batina, pois também tem missa para celebrar.

Tatiane Dores da Silva, jornalista.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Arvorezinha, arvorizão...

Em princípio o escandâlo da árvore de natal de Floripa não acabou em pizza. Foram suspensos os pagamentos das parcelas da árvore à Palco Sul, assim como as apresentações da programação de Natal.


Tatiane