quinta-feira, 22 de maio de 2008

Viciados em malhação, Tatiane Silva.


Rafael: “Se não faço meus exercícios fico de mau- humor”.
Espelho, espelho meu, existe alguém mais forte do que eu?

O vício da academia ainda é visto por alguns como excesso de vaidade, no entanto, trata-se de uma doença e precisa ser tratada logo.

Todos os dias, de segunda a sexta, são sagrados para Rafael Corrêa, 20, os exercícios físicos que pratica numa academia no centro de Florianópolis. Até aí tudo bem, se não fosse um detalhe: a mudança no humor quando não pode ir malhar. Só de pensar em ficar longe dos aparelhos de musculação por mais de 48 horas, o adolescente fica irritado, "Passo mal o dia que não malho", conta Rafael.
Ele lembra bem o dia em que a recepcionista do local onde treina, teve que negar um pedido do seu freqüentador mais assíduo: as chaves do estabelecimento. “A academia ia ficar fechada no feriado, e eu não queria interromper meu treino”, recorda.
Rafael sabe bem que toda essa ansiedade para não perder um dia sequer de malhação tem nome: Vigorexia. Conhecida também como Síndrome de Adônis, a doença se esconde por trás de um hábito aparentemente saudável: a prática de exercícios físicos.

Ditadura de beleza
A busca incessante por um corpo perfeito fez surgir nas últimas décadas na sociedade moderna, inúmeros casos de transtornos emocionais, relacionados à imagem corporal. Entre os mais conhecidos estão os de hábitos alimentares: Anorexia e Bulimia. Já a Vigorexia, catalogada como Transtorno Dismórfico Corporal, caracteriza-se principalmente pela supervalorização de uma silhueta perfeita e o esforço desmedido do indivíduo para alcançá-la.


“Deixei de ir ao enterro do meu tio para ir à academia”
Cancelar compromissos para ir à academia não é uma atitude incomum para os vigoréxicos. O fisiculturista Roberto Adilson da Silva, 34, sócio de uma academia em Barreiros, recorda-se do dia em que trocou um compromisso para poder ir malhar, “Deixei de ir ao enterro do meu tio para ir à academia”, conta. Para alguns essa atitude representa um exagero, já para o fisiculturista trata-se somente de um hábito com muita disciplina.
Para os vigoréxicos priorizar os treinos diários é quase uma lei. E foi dessa maneira que o adolescente Rafael recusou uma oferta de emprego, “Desisti porque teria que trabalhar oito horas e não sobraria tempo para academia”, justifica.

O espelho: de aliado a inimigo
Mais comum em homens do que em mulheres, uma das características da Vigorexia é a insatisfação do indivíduo com o próprio corpo. Mesmo com a musculatura avantajada, ele não se satisfaz com o que vê diante do espelho.
O fisiculturista Roberto conta que, mesmo com todo o volume de músculos que possui (ele é bem forte), quer aumentá-los ainda mais. A referência que tem para alcançar sua meta é o lendário ex-fisiculturista britânico Dorian Yates e americano Ronnie Colleman (ambos com vários títulos consagrados em campeonatos de fisiculturismo).

A doença predomina entre os homens
Segundo o psiquiatra Luiz Rath, de Florianópolis, apesar de não existirem dados estatíscos a respeito do assunto, acredita-se que o número de casos venha aumentando, principalmente entre indivíduos do sexo masculino. Para ele, as pessoas ainda desconhecem a vigorexia como uma doença, chegando acreditar ser um hábito saudável. “Aparentemente trata-se apenas de exercitar muito os músculos, ficando encobertos os aspectos patológicos da obsessão”, salienta o psiquiatra.

Conforme Rath, a doença se manifesta em pessoas inseguras, de baixa auto-estima, que se preocupam excessivamente com o julgamento dos outros e que acabam por supervalorizar os cuidados com o corpo.

As conseqüências da vigorexia vão além do que se imagina. Isolamento, falta de interesse sexual, desgaste físico e mental, falta de apetite, irritabilidade e cansaço estão entre alguns dos prejuízos que a doença traz.
O tratamento, segundo Rath é feito através da psicoterapia cognitiva, um recurso onde o profissional ajuda o paciente a identificar as áreas emocionais e sociais que estão afetando no dia-dia, ou em situações especificas. E em alguns casos é feito uso de medicação antiobsessiva.

Ainda não se sabe quais as causas para este tipo de comportamento obsessivo, mas segundo o psiquiatra certamente estão envolvidos fatores sociais, como a atual cultura do corpo “sarado”, associados a uma insegurança e vulnerabilidade pessoal para as exigências da sociedade.

Sem comentários: