quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A viagem para um lugar que ninguém foi, nem vai

A presença do professor na sala de aula já a estava irritando. As horas no relógio mais pareciam andar para trás. Paciência era uma palavra que, realmente, não existia no dicionário daquela mulher naquele dia.

Ela sabia, ou pensava que sabia, o motivo daquela angústia. Uma sangria desatada. Lembrava de todas as suas investidas e tentativas nos últimos tempos. A voz do professor mais parecia a de um monstro na tecla 'slow'. Juntou seu material, pegou a bolsa, o guarda-chuva caído no chão, pediu licença, desejou boa noite aos que estavam na sala, e se retirou.

Que alívio! - pensou. Era do ar fresco noturno que ela precisava.
Avistou a igreja, e pensou que bem que ela poderia estar aberta naquele horário - já passava das 21h - para que pudesse ter aquela conversinha, que parecia que não havia surtido efeito, com a santa daquela paróquia.

Passada a boa sensação da brisa no rosto, os pensamentos torturantes que a deixava exaustiva de tanto matutar novamente vieram à tona.

O que não sabia era o que queria de fato. As coisas vinham melhorando. Havia conseguido o emprego, tão difícil para uma recém-formada. Mas aquele vazio voltava de novo.

Agora ela sabia. Aqueles meses indo à terapia tinham que dar em algum lugar. Ela queria só saber quem ela era. Já não sabia mais. Uma simples pergunta como essa tornou-se uma verdadeira tormenta.

Tanto tempo passou tentando ser o que tinha que ser, e esqueceu-se de ser ela. Não era mais ela.

A brisa de novo soprou. O sinal verde abriu para os pedrestes. Atravessou. Procurou sentar em algum banco do ônibus que houvesse mais claridade. Talvez a luminosidade clareasse as ideias dela.

Absorta em meio aos seus pensamentos, ditraiu-se ao perceber que meio que de espreita um olhar virava-se na direção dela, hora e outra. Era um rapaz. Bem apeiçoado, bonito. Ela retribuiu os olhares. Mas pensou que não adiantaria insistir na retribuição. Uma paquera no ônibus dificilmente renderia em algo.

Esqueceu dos olhares e voltou aos pensametos. Não tinha como fugir deles. Nem dos olhares do rapaz. Desistiu de pensar. Já tava cansada pras duas coisas.

Fechou os olhos, deitou a cabeça e deixou-se absorver por aquele momento.

De súbito todo aquele momento de transe foi interrompido pelas chamadas insistentes do uma voz masculina. Era o cobrador do ônibus lhe dizendo que chegara o ponto final, que dali iria para garagem.

Fim da viagem. Das duas. Da dela e do ônibus.


Tatiane.

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