terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Cenas do cotidiano ilhéu





Realmente ela não sabia com quem estava falando. O jovem que recebia o decreto estarrecedor da mulher devia ter seus vinte e poucos anos e estava acompanhado de uma moça. Os dois vestiam calças pretas, os cabelos eram pretos e eles estavam carregando mochilas. Tinham um jeito difente, um estilo "alternativo" de se vestir, digamos.

Eles se encontravam na Casa da Memória, em Florianópolis. Digo que, sinceramente, o rapaz não esperava receber aquela resposta da mulher, não mesmo. Qualquer um, menos ele.

Ela foi enfática:

- Não é possível. Só em março. "Fulano de tal" está de licença-prêmio, ele é quem cuida de tudo relacionado ao Zininho*, e só volta mês que vem.

O garoto insistiu:

- Mas é para um trabalho que eu preciso entregar em março.

A mulher:

- Infelizmente, só em março, pois "Fulano de tal" trabalhou anos com o Zininho, e ele é que tem mais informações a passar.

Enquanto isso, eu fazia hora no local e lia uns livros esperando a chuva que molhava esta tarde, passar. Eu sabia quem era garoto, eu sabia com quem a mulher estava falando.

Voltando...

O garoto foi relutante, realmente ele precisava do material do Zininho:

- Olha, como pode isso?! Só em março? O lugar não pode parar de funcionar só porque o "Fulano de tal" está de férias. Eu conheço o "Fulano de tal".

Dessa vez ele preferiu ser mais direto:

- Eu conheço o "Fulano de tal" porque sou neto do Zininho!


Uma atmofesra de embaraço, por parte da mulher, tomou conta do cenário. Eu imediatamente parei de ler o livro que segurava.

- Ah, sim, claro, por isso mesmo, já que conheces ele, ele só volta em março. Mas posso te mostrar o acervo musical do seu avó, se você quiser, claro...


Nesse exato momento, a chuva deu uma trégua. Não quis que parecesse que estava prestando atenção na conversa deles. Me retirei do local. Agora, a mulher já sabia com quem estava falando.


Por curiosidade:

Cláudio Alvim Barbosa, o poeta Zininho, (Biguaçu, 8 de maio de 1929 — Florianópolis, 5 de setembro de 1998) foi um compositor brasileiro de música popular.

Nascido na localidade de Três Riachos, durante a infância viveu no Largo 13 de Maio (atual Praça Tancredo Neves), tendo o antigo casario da rua Menino Deus e o Hospital de Caridade como vizinhos. Sua adolescência foi no continente, no balneário do Estreito. Desde jovem, foi atraído por atividades radiofônicas. Trabalhou nas rádios Diário da Manhã e Guarujá, onde fez de tudo um pouco: cantor, rádio-ator, sonoplasta, técnico de som e produtor.

Foi nesta época de ouro do rádio, nas décadas de 1940 a 1960, que compôs mais de cem músicas, de marchinha a samba-canção. Destacam-se "A Rosa e o Jasmim", "Quem é que não chora", "Princesinha da Ilha" e o Rancho de Amor à Ilha, escolhido em 1965, através de um concurso, como hino oficial do município de Florianópolis.

Depois da manifestação de um enfisema, Zininho recolheu-se em seu apartamento, no bairro continental do Abraão. Sucumbiu à moléstia em 5 de setembro de 1998.

Foto do post: Casa da Mémoria de Florianopolis. A autoria do registro eu desconheço, catei pelos Google's da Vida.

Tatiane.

1 comentário:

Anónimo disse...

passei por aqui!